domingo, 3 de abril de 2011

Amor Infantil, Porém Eterno

Comecei a escrever esse texto ontem, no meio da madrugada, quando o sono que tinha ameaçado aparecer resolveu me abandonar, deixando-me acordado, deitado na cama, sem conseguir dormir, mas também sem muito ânimo para fazer algo que envolva qualquer tipo de esforço físico. O cansaço da semana aparece no sábado, é sempre assim! Bons tempos aqueles de quando jovem, nos meus 16,17 anos onde podia ir a aula, jogar várias partidas de futebol, sair à noite e no outro dia ainda estar com um pique de quem bebeu um fardo de energético, 4 térmicas de mate e mais 27 taças de café.
E como andava sendo criticado porque não escrevia mais no blog resolvi ocupar esse tempo vago escrevendo um pouco. Algumas vezes eu escrevo aqui sobre situações isoladas, que acontecem em determinado dia, determinado momento. Mas hoje vou escrever sobre algo que faz parte da minha rotina diária, algo pelo que sou totalmente apaixonado, algo que me faz muito feliz. Perdoa-me amor, mas dessa vez não estou falando sobre ti, embora tu te encaixes perfeitamente nessa descrição. Dessa vez estou falando da Medicina.
No cursinho eu tinha vários colegas e amigos que desejavam cursar Medicina. Cada um tinha seus motivos, seus sonhos, suas angústias, Uns eram filhos de médicos e que, por um pouco de pressão dos pais ou pelo ambiente em que viviam, decidiram por seguir essa carreira. Outros olhavam com olhos ambiciosos para um possível futuro financeiramente vantajoso. Ainda haviam os românticos que apenas queriam tornar-se médicos para salvar vidas e ajudar pessoas.
Bem, eu era um indeciso entre eles. Nunca soube exatamente porque quis fazer Medicina. Mas sempre soube que meu único caminho profissional na vida era ser médico. Não me recordo exatamente qual foi o primeiro dia em que me imaginei com o jaleco branco e o estetoscópio pendurado no pescoço, mas com certeza foi muito cedo, pois desde que a memória me permite lembrar eu me vi como médico.
Uma peculiaridade nessa história toda ocorreu quando eu tinha 12 anos. Em um momento de lazer andando a cavalo acabei sofrendo uma queda e fraturando o ombro. Foram 7 dias internados entre o pré, o trans e o  pós-cirúrgico. E nesse dia vi médicos passando pra lá e pra cá nos corredores. Vi homens mascarados, vestindo roupas verdes em amplas salas bem iluminadas...sim eu estava no Bloco Cirúrgico para a realização da minha cirurgia. E que lugar legal aquele. Gostei tanto que hoje adoro frequentá-lo! Uma tarde inteira lá dentro, auxiliando em cirurgias, com certeza é algo muito divertido dentro das minhas concepções de divertimento. Parando para pensar agora...talvez essa fratura tenha algo a ver com minha inclinação para o lado da Traumatologia e Ortopedia.
Depois dessa fase, passei a me interessar ainda mais pelos assuntos médicos. A minha mãe fazia uma coleção, dessas que vem encartadas em jornais, sobre Medicina. Tenho até hoje ela guardada em meu quarto.Lá estavam reunidas informações bem legais sobre as principais doenças, sobre anatomia, sobre história da Medicina. Lembro de passar horas lendo rapidamente várias páginas querendo saber cada vez mais. Não entendia mais da metade do que lia, mas saber que estava lendo sobre Medicina já me animava. Ano passado fui dar uma olhada naquela coleção. Até que tem algumas coisas interessantes, mas boa parte refere-se a um conhecimento que ficou no passado, pois não é mais válido! E isso é bem comum nessa área. Afirmações que antes eram dadas como certezas absolutas hoje podem configurar grave erro médico. A evolução e a descoberta de novos conhecimentos é rápida e constante. E precisamos estar atentos a isso.
A Medicina, depois de entrarmos na Faculdade, ganha outros olhos. Muito observadores, muito críticos, muito curiosos. As aulas de Anatomia são instigantes. Tudo aquilo faz parte do Corpo Humano? E isso funciona direitinho mesmo? O Armandinho diz que Deus estava namorando quando criou a sua musa. Eu só não digo que Ele estava fazendo amor quando teve a idéia de criar o ser humano porque seria um pecado muito grande. Mas deveria ser algo bem parecido, sabe!
Depois da parte chata, com apenas aulas teóricas e muito pouca prática médica, chegamos aos belos dias de contato diário com o paciente. E lá a Medicina passa a fazer muito mais sentido. Passamos a ver que os pacientes não sofrem apenas de determinada patologia, ele sofre com essa determinada patologia. E isso é muito diferente. Para cada um a doença tem um significado diferente. E entender isso é uma função primordial de quem os atende!
A rotina diária do Hospital nos faz ver que a vida realmente tem fim para todos. E embora entremos na Faculdade pensando em salvar vidas nos deparamos com nossa impotência perante a ela. podemos tentar todas as terapias já criadas, podemos usar todos os medicamentos disponíveis, podemos rezar pra todos os santos e santas, mesmo assim um dia nossos pacientes irão morrer.
E por falar em santos aproveito para abordar um outro aspecto dessa trabalhosa, porém linda oportunidade de ser útil à várias pessoas que é escolher Medicina como estilo de vida. Os primeiros tratamentos com certeza utilizaram a religião, ou pelo menos a crença em Deuses, Mitos e Lendas, como base. Porém, com o passar do tempo e com as descobertas científicas, a Medicina afastou-se bastante dos assuntos religiosos e espirituais, passando a ser uma ciência baseada especificamente em estudos e resultados, não tendo praticamente nenhum espaço para fé em algo que não tenha um estudo duplo cego randomizado e publicado no New England Journal of Medicine! Mas confesso que toda vez que entro no Bloco Cirúrgico rezo um Pai-Nosso pedindo que Jesus guie minhas mãos e minhas atitudes para que o melhor seja feito pelo paciente!
Bem, passado o momento "sim, eu assumo que peço ajuda a Deus pois tenho certeza que não sou capaz de fazer nada nessa vida sem ajuda Dele", volto a falar sobre a Faculdade de Medicina. Nela encontramos todos os tipos de professores. Os ótimos, os bons, os regulares, os ruins e aqueles que estão lá por algum motivo que eu ainda não consegui descobrir. Com eles aprendemos várias coisas. E uma das principais é que existe a famosa relação médico-paciente. Sim, aprendemos que ela existe, mas não aprendemos como fazê-la, pois isso vai depender da personalidade de cada um. Lógico que existe uma base técnica que devemos respeitar, mas o diferencial mesmo depende de cada um. A relação médico-paciente nada mais é do que aquele estalo que te dá quando consultas um médico e pensas: "tá aí, gostei desse cara, gostei do jeito que ele me atendeu". Esse é o sinal de que ela foi firmada. Isso pode acontecer nos primeiros minutos de consulta, assim como pode levar vários retornos até que ela seja realmente firmada. E essa é uma parte fundamental da Medicina.
Conforme o tempo for passando, e a Faculdade seguir seu curso final(faltam menos de 2 anos para acabar) vou redescobrindo novas coisas e postando aqui! Posso dizer que depois desses pouco mais de 4 anos de Medicina sou um cara muito mais feliz e realizado por um sonho de criança ter virado uma realidade tão encantadora, embora esta me faça tomar bem mais que 27 taças de café em época de prova!
Até!!!

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