Nunca a cor de fundo deste blog fez tanto sentido para representar o sentimento vivido por mim. Terça pela manhã, mais precisamente às 10 horas, assisti, abraçado em minha mãe e minha irmã o enterro de meu avô. E aproveito este espaço para desabafar um pouco, aliviar algumas tensões, tornar esse momento não tão triste.
Ele ficou internado na UTI por 18 dias em um estado muito grave, com a morte sendo assunto principal em muitas de minhas conversas desde então. Talvez tentando preparar-me para o que viria. Nos últimos 2 dias de internação seu quadro agravou-se muito e a partir de então sua perda deixou de ser um dúvida e passou a ser uma certeza.
Uma triste certeza. Mas como nesses últimos dias seu sofrimento era enorme e já não havia qualquer possibilidade de uma vida pós-UTI, desejei do fundo do coração que o carinha lá de cima o tomasse em seus braços. A mãe, outras irmãs dela e a vó fizeram a mesma coisa, domingo à noite rezaram muito para que ele fosse bem recebido por Deus. Na segunda pela manhã ele faleceu. Fui o primeiro familiar a ver o corpo e posso dizer que sua feição era muito mais terna, menos sofrida do que nos últimos momentos de vida. E para elas isso foi um sinal claro de que Deus ouviu nossas preces. E quem pode garantir que não foi isso mesmo?
O vô tinha uma grande importância na minha vida, por vários motivos. E durante as várias horas de velório, incluindo a madrugada fria e interminável no cemitério, pude reviver vários desses motivos em meu pensamentos.
Vi várias pessoas só falando coisas boas dele! Enaltecendo suas inúmeras qualidades, esquecendo totalmente seus defeitos. E nessa hora lembrei das aulas de Psicologia Médica, onde os professores sempre ressaltam que essa é uma atitude normal diante da morte de um familiar ou de um amigo. Temos a tendência de usar uma lente sobre as virtudes de quem faleceu e deixar de lado seus erros, sua falhas. Mas com isso lembrei do empenho que o "Seu Geraldo", como a maioria das pessoas que foram ao enterro o chamavam, teve para me ajudar a tornar uma feliz realidade o tão lindo e difícil sonho de ser médico. Ele sempre ajudou-me muito, não só financeiramente pagando cursinho, dando livros, bancando congressos, mas também sempre me orientando, abrindo meus olhos para os caminhos que eu havia de seguir dali pra frente. Se hoje eu posso estar realizado por cursar Medicina é muito por causa dele! E em cada vez que eu receber o "rótulo" de "Médico Humano" vai ser praticamente 100% graças a ele! Aprendi muita coisa sobre como ser uma pessoa mais solidária, mais amorosa, mais compreensível com ele. A cada conversa que tínhamos ele me fazia entender a importância disso tudo nas relações humanas, tornando-as mais sólidas, mais verdadeiras.
Fé era uma das maiores qualidades do vô. Sim, fé! Nunca estive em frente de uma pessoa que tivesse mais fé que ele! Especialmente fé em Deus. Sabe aquela história de "amar a Deus sobre todas as coisas"? Pois é, nós vivíamos isso toda vez que o encontrávamos. De uma forma ou outra, com muita calma e serenidade em suas palavras, ele sempre nos fazia compreender o quão Deus é importante na vida de uma pessoa. Ele era católico praticamente, mas nunca obrigou ninguém a seguir seus passos, apenas nos orientava a sempre ter em mente a importância de amar a Deus e de seguir nossa vida baseada em princípios do amor e do bem. Ele amava tanto a Deus que fazia questão de o entregá-lo na forma do "Corpo de Cristo" a todos que podia. Sempre que chamado ia a Hospitais, Asilos, Residências entregar a Hóstia para quem por algum motivo não havia conseguido participar da Missa. Há algum tempo, enquanto ainda estava totalmente lúcido deixou bem claro o seu desejo de ser enterrado com a veste que usava a cada Eucaristia, demonstrando o quanto amava a oportunidade de levar um pouco de Deus às pessoas. Na hora da encomendação do corpo, realizada pelo Padre Bandeira, padre que foi sempre um amigo do vô, muito mais do que o Celebrante das Missas onde ele era Ministro, o que se notava era uma corrente geral de aceitação e afirmação de todos os presentes. Todos concodaram com tudo o que foi falado, especialmente com a expressão utilizada pelo padre, dizendo que o vô era a personificação da solidariedade e do amor a Deus.
A madrugada de velório e a manhã de enterro foram tristes, muito tristes. As lágrimas foram companheiras de todos ali presentes. E ao mesmo tempo que eu tinha vontade de chorar copiosamente, precisava manter a calma e a força para segurar a barra que minha mãe e minha irmã, muito abaladas com tudo aquilo, suportavam. E a cada vez que alguém começava a chorar logo elas desabavam em um choro soluçante. E eu precisava dar suporte a elas. Foi um duelo entre a emoção e a razão. E a razão acabou prevalecendo. Pude ser um apoio sólido a elas. Mas por isso acabei segurando minhas emoções. Me conheço bem, sei como isso acontece comigo. Daqui alguns dias, quem sabe semanas, vai haver um momento onde eu vou chorar tudo isso que não chorei, mas aí só eu vou sentir isso, sem preocupar ou aumentar o sofrimento de ninguém.
Aproveitando que estou falando sobre esse triste momento, gostaria de agradecer a presença do Vinícius Rosinha e da Lorena que foram até o cemitério depois da meia-noite só para poder me dar um confortante e alentador abraço. Já disse a vocês que são amigos muito importantes em minha vida, mas cabe também um agradecimento e uma reverência "púlica"!
Bem, o vô faleceu, foi enterrado e a vida seguiu. Diferente, pois já não posso mais visitá-lo e ouvir suas sábias palavras. Mas elas ainda ecoarão em minha mente e coração enquanto eu estiver vivo. E se eu ainda tenho direito a um último pedido a ele, é que me ajude a me manter o mais próximo dos caminhos que trilhou e deixou marcado para seguirmos.
Até!
Obs: Obrigado a quem ler esse post, pois de alguma forma está me ajudando a superar esse momento delicado!
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